Diário de Bordo - Sérgio

 

25/10/2006

Fiquei no clube novamente, atualizando os diários e pegando uma piscina de vez em quando. As crianças ficaram muito contentes, pois os gatinhos da Frida reapareceram! Ela os havia levado para a cozinha do clube e os colocou dentro de uma caixa de óleo. No final da tarde, após o Bolero de Ravel, saí para fazer mercado com o Rodrigo. Compramos coisas para fazer mais um churrasco com todas as tripulações, aproveitando que haviam sobrado algumas coisas do último churrasco. O Hélio e a Mara chegaram no final dele e entraram na roda de conversas, que se estendeu até as onze horas. A Talita, finalmente, veio dormir no Fandango e a Carol ficou muito contente.

 

26/10/2006

Acordei eram 5:45 hs para ajudar na descida do Beduína, que já acabou de pintar o fundo. O Valmir também iria sair com o Radum no mesmo horário, com Salvador como destino. O Beduína demorava a descer e então o Hugo apareceu, dizendo que uma roda da carreta havia quebrado e o barco só poderia descer novamente no final da tarde. O Valmir e a Mariana arrumaram tudo para a saída, nos despedimos e eles partiram, com o motor fazendo muita fumaça e andando pouco. Andaram cerca de 100 metros e voltaram para ver o que estava acontecendo. O sinal era de muita craca no hélice e um mergulho, na água turva do rio Paraíba, confirmou o diagnóstico. Não fizeram a limpeza de fundo que o Valmir havia mandado fazer (o mesmo que aconteceu com o Torres no ano passado). Ele pegou uma espátula e limpou apenas o hélice. Testou novamente o barco, que melhorou muito o rendimento, e seguiu viagem. Tomei café no Cavalo Marinho com o Rodrigo, Hugo e Gislaine. O Hugo estava torcendo para que chegassem algumas peças da rabeta do motor e agora ele teria um pouco mais de tempo para esperar. Acordei as crianças e fiz café para elas. Depois, fui acabar de colocar as fotos dos diários. Finalmente acabei!!! Muita coisa foi vivida e pouco tempo sobrou para atualizar o site, fora as dificuldades técnicas de conexão. Fiz almoço para as crianças no barco, com a Talita como convidada. Depois do almoço aproveitei e tirei uma “soneca” de quase duas horas. Acordei com o som do Bolero de Ravel começando. A Gislaine e o Hugo haviam saído de manhã e só retornaram quatro horas da tarde, mas conseguiram trazer as peças do Beduína. O Hugo montou rapidamente as peças na rabeta e, com “o coração na mão”, desceram o Beduína para a água. Só quem já desceu o próprio barco sabe a tensão que é. Tudo correu normalmente e logo o Hugo manobrava o barco, encostando-o ao nosso lado. Agora estamos Beduína, Fandango e Cavalo Marinho lado a lado no píer. Fomos comer pastéis numa das barraquinhas de Jacaré. O pastel não estava muito legal e, em vez de comer o segundo, fui comer uma tapioca na barraca ao lado. A tapioca estava ótima! Talvez a melhor que comi na viagem! Tomamos um café na nossa cafeteria favorita, escutando histórias de charters do Hugo. Voltamos ao clube onde tomamos banho. No final dele, acabou a energia elétrica e tudo ficou escuro, só com a lua a iluminar. Pegamos as coisas com cuidado e fomos para o barco. Agora estou aproveitando para adiantar o diário de hoje e a Carol acabou de pegar suas coisas para dormir no Beduína, pois amanhã irá num passeio da escola com a Talita. Lemos um pouco e fomos dormir cedo.

 

27/10/2006

A Carol e a Talita saíram logo cedo para o passeio. É estranho ficar sem a Carol por perto! Após nosso café da manhã, peguei o Jonas para ditar os diários dele para incluir na página. Ficamos trabalhando um bom tempo nisso. A Gi passou por nós e disse que ia até o shopping fazer compras e nós aproveitamos a carona: deixamos tudo para lá e fomos com ela, a Elisa e o Torres num buggynho para o shopping. Chegamos lá e fomos passeando pelas lojas. O shopping fica em Tambaú e não é grande. Aproveitei para sacar dinheiro, comprei um carregador de celular para 12 volts (sempre estava usando o inversor, que consome muita energia), acessei o banco pela internet, pois não estou conseguindo fazer isso via celular e almoçamos no shopping. Fomos ao mercado no próprio shopping e fizemos compras de bebidas, para um strogonoff que a Gi vai fazer hoje à noite, para comemorar a descida do Beduína. Retornamos ao clube e então eu fui pegar as meninas na escola com a Gi. Quando nós fomos para o shopping e voltamos, o Torres e a Gi falaram que tinham dificuldades para dirigir o buggy. Quando fomos pegar as meninas, eu vi o porquê: embreagem dura e baixa, freio duro e com pouca ação, direção minúscula e outras coisinhas. Mas como “a cavalo emprestado não se olha os dentes”, fui indo devagar. Fazia bastante tempo que eu não dirigia, o que tornou a ida ao colégio uma aventura. Pegamos as meninas e lá voltamos nós para o clube. Cheguei no clube parecendo que tinha ido de São Paulo para Ilhabela e voltado! Até dores musculares eu senti! Mas valeu a pena: as meninas estavam contentes e disseram que o passeio foi ótimo. No barco, peguei o Jonas e a Carol e eles acabaram de ditar os diários! Finalmente, site totalmente atualizado! Li um pouco do livro que o Érico tinha me dado, que estou gostando. Tomamos um banho e fomos para o delicioso jantar que a Gi fez. Estavam lá as tripulações do Beduína, do Fandango, do Kanaloa, o Rodrigo, o Hélio e a Mara, além do João, que está construindo um trimarã para viajar quando se aposentar. Tirei umas fotos da lua se pondo ao lado do Beduína na marina e comi muito! Um bom vinho completou o jantar. Fiquei conversando um pouco ainda, com o Hélio e o Rodrigo. O Hélio disse para pararmos em um belo lugar abaixo de Recife, chamado Atapus. Vou tentar pegar os waypoints com ele. Após três pratos de strogonoff e de ter “rapado” a panela, dormi feito um anjo!

 

28/10/2006

Acordamos eram nove horas, com outro dia lindíssimo de sol. Preparei o café e convidei o Rodrigo, que tomou café conosco. Respondi alguns e-mail’s e resolvemos conhecer o forte que fica em Cabedelo. Convidamos a Talita e lá fomos nós quatro de ônibus. No caminho para o ponto, encontramos um sorveteiro que vende um sorvetinho de iogurte, dentro de uma embalagem plástica. Ele é muito gostoso e havia um de graviola que era fantástico! Pegamos o ônibus na pista e em pouco tempo estávamos em Cabedelo, na ponta de terra que separa o rio Paraíba do mar (Cabedelo significa “pequeno cabo”). Andamos até a Fortaleza de Santa Catarina, cujo início de construção foi em 1589, um bem conservado forte, transformado em museu. Visitamos todo o forte com a guia Júlia. Ela contou algumas estórias do forte, onde não faltou nem assombração. Falou que a esposa de um comandante foi assassinada no forte, por tê-lo traído com um soldado e que algumas pessoas viram o fantasma dela, que foi retratado num quadro. As crianças ficaram impressionadas! Como estão naquela idade de “gostar” dessas histórias, acharam super legal. Visitamos uma sala no forte que é um mini museu sobre caça às baleias. Fotos e equipamentos da moderna caça às baleias, que tornavam a caçada uma covardia, estavam ali e foram mostrados: grandes canhões, aparelhos elétricos para desacordar a baleia ferida e equipamentos para “inflá-las”, para ficar mais fácil a matança e o corte. Felizmente, instrumentos não mais usados atualmente. Andamos bastante pelo forte e fomos num corredor de fuga da fortaleza. O forte foi palco de muitas lutas e foi atacado muitas vezes pelos holandeses, que estavam sediados em Recife. Dizem que pode derivar daí a expressão “Paraíba masculina, mulher macho sim senhor”. Uma estória que escutamos diz que, quando o forte foi tomado, cinco mulheres seguraram, sozinhas, os milhares de holandeses que estavam atacando, para que os outros pudessem fugir. Quando os holandeses conseguiram invadir o forte, encontraram os corpos das cinco mulheres e mais ninguém dentro do quartel. Pegamos outro ônibus para voltar ao Jacaré, onde comi tapiocas com o Jonas. A Talita e a Carol tomaram milk-shake’s e voltamos ao clube. Eu estava bem cansado, mas descansei um pouco e ainda fomos no aniversário da mãe do Hélio, a simpática dna. Penha, no restaurante Bombordo. O Jonas, a Carol e a Talita foram convidados para dormirem no Kanaloa, para onde foram todos contentes!

 

29/10/2006

Dia de eleição! Segundo turno da eleição para presidente, onde teremos que escolher entre o “Nhô Ruim” e “Nhô Pior”. Levantei e fui ver se as crianças já haviam acordado. Como estava tudo silencioso no Kanaloa, voltei para o barco, onde comecei a ler, finalmente, o livro que a amiga Jane me deu quando saímos: “A História do Mundo em Seis Copos”. É muito bem escrito e fala das mudanças do mundo ocorridas com o descobrimento de seis bebidas: café, vinho, destilados, chá, café e coca-cola. Quando voltei ao Kanaloa, as crianças já haviam tomado café e estavam brincando com um monte de quebra-cabeças do Torres. Como estamos todos longe de casa, fomos juntos, todos os tripulantes votantes dos quatro barcos aqui, justificar nosso “direito obrigatório” na hora do almoço, para ter menos fila. Chegamos no colégio, que fica aqui em Jacaré mesmo, a 300 metros do clube e, em dez minutos, tudo estava resolvido. Voltamos ao clube e ajudei o Rodrigo com o bote. Fizemos um almoço comunitário no Beduína, onde experimentamos algumas comidas prontas que havíamos comprado no mercado. São boas e incrementadas com algumas coisas que a Gislaine fez, ficaram ótimas! No começo da noite fomos tomar capuccinos e ficamos conversando bastante. Apesar de considerarmos “ócio” esses momentos, muitas informações técnicas são passadas. Hoje foi a vez de falarmos sobre rádio SSB, que o Rodrigo está pensando em colocar no Cavalo Marinho. No retorno ao barco, fomos ver um filme no Beduína: “O Código Da Vinci”. O livro é bem melhor que o filme, mas este está muito bem feito. Algumas diferenças, principalmente no final, fizeram o Jonas ficar com muita vontade de ler esse livro. Finda a sessão de cinema do Beduína, voltamos ao Fandas para o sono merecido.

 

30/10/2006

Hoje foi o dia da Carol fazer o nosso café da manhã: pães com manteiga queimados com a faca e sucos! Fiquei fazendo coisas na internet a manhã toda, esperando as crianças acabarem seus diários. Quando tudo ficou resolvido, já era tarde para passearmos. Almoçamos, dormi um pouco na parte da tarde e depois fui ao Jacaré, ver o sempre lindo pôr-do-sol. No começo da noite, fomos todos ao Kaká-Maumau, pois as crianças haviam sido convidadas para brincarem lá. Aproveitei e conheci o fantástico barco. Tem todo o conforto possível e espaço não falta! São 46 pés de puro conforto, com 3 suítes de casal, mais um quarto de casal e beliches para mais dois tripulantes! É enorme e, pelo que me disseram, navega maravilhosamente bem. É um barco brasileiro e fabricado em Aracaju. As crianças brincavam com vários jogos com o Hélio. Vários conhecidos foram chegando e ficamos umas quinze pessoas no cockpit batendo papo. Eles aproveitaram para fazer a reunião do “Primeiro Rally Paraíba-Caribe” que, a princípio, está com quatro barcos. Com muita alegria, datas de chegada e partida nas várias paradas foram acertadas. Os participantes deram ao Bernardo, comodoro do Iate Clube da Paraíba, um sino com os nomes das embarcações. O mais bonito no sino era o trabalho em cabos que o Torres e a Elisa do Kanaloa fizeram para puxador do badalo. Fotografei os participantes do rally e curti muito a reunião, torcendo para os amigos terem uma boa viagem. Quem sabe não vou para o Caribe num dos futuros rally’s Paraíba-Caribe?!

 

31/10/2006

Acordamos cedo, para podermos passear. Eu não agüentava mais ficar “preso” no clube, apesar dos amigos, do conforto e da beleza do lugar. Peguei as crianças e logo fomos para a pista pegar um ônibus em direção à praia de Camboinha, que fica na frente de um banco de areia chamado Areia Vermelha. A praia de Camboinha é muito bonita! Andamos bastante pela praia e paramos para tomar um banho de mar em suas águas mornas. As praias da Paraíba são muito melhores para banho do que as que conhecemos em Natal. Os recifes são mais distantes e não existem pedras na beira-mar. Após um bom tempo, um grande pirajá veio em nossa direção trazendo muita chuva e resolvemos fugir. Fomos para a pista e, embaixo de um pouco de garoa, pegamos o ônibus em direção à praia de Tambaú. Chegando lá, comemos uma tapioca na famosa feirinha de Tambaú (ainda gosto mais da tapioca do Jacaré) e fomos passear na praia. Andamos até quase a metade do caminho para o Cabo Branco e paramos para tomar outro banho de mar. Novamente nuvens negras com suas fraldas acinzentadas vinham em nossa direção. Só que desta vez, deixamos chover: ficamos dentro da água e esperamos a chuva passar, deixando a nossa sacola coberta com os chinelos e a toalha. Após nos saciarmos de praia e, particularmente eu, ter recarregado minhas “baterias” com água salgada, que sempre me faz falta, retornamos ao clube de ônibus. Ainda paramos para comprar algumas coisinhas de mercado e fomos de táxi do mercado ao Jacaré. As crianças foram brincar e eu fui tomar um café. Soubemos que haviam tentado tirar o Kaká-Maumau da água e que a roda da frente da carreta havia atolado, deixando-o no meio do caminho. Ele teria que descer novamente, a carreta sofrer algumas alterações e aí novamente subir. Fomos para o Beduína, onde fizemos panquecas com molho de salsichas. Depois fomos ao Cavalo Marinho e ficamos conversando com o Rodrigo, ajudando-o a fazer um curativo no pé, pois havia dado uma “senhora” topada numa pedra. Ficamos conversando um bom tempo, com um nó na garganta, sabendo que, provavelmente, demoraríamos muito para nos ver.  O Rodrigo nos convidou para fazer o trecho Fortaleza-Caribe no Cavalo Marinho, mas acho que será muito difícil conseguirmos nos ajeitar para isso. Logo, o táxi que o levaria ao aeroporto chegou. Essas despedidas, de gente que gostamos, são de matar! Não me acostumo com isso.

 

01/11/2006

Acordamos muito cedo novamente. Café rápido e, logo, João Carlos, um velejador sócio do Iate Clube da Paraíba, chegou para nos buscar. Ele havia nos convidado para um passeio pela cidade outro dia e, então, combinamos para hoje. Muito atencioso, ele trouxe para as crianças uma explicação da palavra “Nego”, da bandeira da Paraíba. Essa palavra, do verbo “negar”, vem de João Pessoa, um governador da Paraíba, que discordou da política café-com-leite na década de 20. A Paraíba foi um dos principais apoios de Getúlio Vargas, um gaúcho, para quebrar a hegemonia Rio-São Paulo na presidência. Também contou-nos várias histórias da Paraíba: de onde veio “Paraíba masculina, mulher macho, sim senhor”, quando mulheres lutaram ao lado dos homens pela defesa de uma cidade na década de 30; falou sobre João Pessoa e sobre Epitácio Pessoa, único a ser presidente dos três poderes. Ele levou-nos na Estação Ciência, patrocinada pela empresa elétrica local. O lugar é muito legal e a explicação sobre energia elétrica é fascinante. Várias experiências elétricas são feitas para as crianças, que recebem uma aula muito legal sobre ela, inclusive um comparativo do uso de energia nas casas antigas e modernas. De lá, fomos para o Centro de Cultura São Francisco, dentro da maravilhosa igreja barroca de São Francisco. Ela foi uma das igrejas mais bonitas e bem conservadas que vimos (talvez só perca para duas da Bahia). Passamos num grande centro cultural, que estava com quase tudo fechado e, então, ele nos levou para conhecer a sede do Iate Clube da Paraíba na praia de Bessa. Super bem localizada, a vista é lindíssima, tanto para o norte, quanto para o sul. Retornamos ao clube e fomos almoçar no Maria Bonita. De lá, vimos o Kaká-Maumau começar a subir, subida concretizada só após um bom tempo calçando a mesma roda, que novamente atolou. Sai para fazer supermercado e quando regressei fui até o Kanaloa, pegar com o sempre gentil e cuidadoso Torres os waypoint’s de Atapus e de Santo André. Bati um papo com ele e com a Elisa e, quando ele me ofereceu se eu queria outros waypoint’s, disse que, talvez, daqui a alguns anos precisarei dos waypoint’s do Caribe! Comemos pamonhas e as crianças ficaram vendo um filme no nosso computador, com o som bem baixinho, pois queimei as caixas de som colocando-as na tomada de 220 volts do clube, enquanto fui dormir. Amanhã, o Beduína, com o Hugo, a Talita e a Gislaine irão fazer um charter na Baia da Traição, ao norte e nós estaremos indo para o sul, para Atapus. Talvez, só voltemos a nos ver daqui a muito tempo.

 

02/11/2006

Logo que levantei, chamei as crianças para irem aproveitar os últimos momentos com a Talita em Cabedelo. Logo eles tomaram o café e saíram para brincar com ela. Quanto a mim, comecei as arrumações para poder viajar. Dei uma ordem no barco e fui fazendo pequenas coisas que estavam por fazer nos últimos dias. Quando passei na frente do Beduína, vi que o Hugo estava com problemas no motor, pois ele não estava circulando água de refrigeração. O Hugo acabou não saindo e ficou mexendo no motor a manhã e quase a tarde toda. Dessa forma, também não saímos para Atapus e deixei as crianças brincarem com a Talita, enquanto eu ia fazendo tudo no barco. Fiz o almoço no barco (um strogonoff de frango em pacotes que dura um bom tempo) e convidamos a Talita, que gosta de strogonoff e comeu muito bem (ela normalmente como só um pouquinho!). Consegui ainda um tempinho depois do almoço para tirar uma soneca e depois plotei os pontos que o Torres havia me passado na carta. Isso deve ser feito sempre, pois um número errado pode provocar um naufrágio. Navegação feita, fomos até o Jacaré comer tapiocas (essas tapiocas vão deixar saudades!) e depois tomar um café no “Sax Café”. Retornamos ao clube, tomamos nosso banho e as crianças foram dormir cedo. Fiquei lendo “A História do Mundo em Seis Copos” até tarde.

 

03/11/2006

Acordei às sete e fiquei lendo até as oito. Chamei as crianças e tomamos nosso café. Logo, o Beduína estava saindo para velejar até a Baia da Traição, ao norte de Cabedelo. Eles nos convidaram para ir junto, mas eu, por necessitar ir ao banco hoje (estou sem o home-banking faz algum tempo) e não haver carta detalhada do local, resolvi que não vamos. Nessas horas, aparece a grande vantagem do pequeno calado dos catamarãs: eles podiam ir sem se preocupar muito com profundidade e pedras. Ficamos, então, fazendo nossas atividades diárias: diários e arrumações, com as crianças com a carinha triste, já com saudades da Talita. Resolvi, também, adiar um pouco a ida para Atapus, pois a variação de maré está muito forte por causa da lua cheia e, conseqüentemente, a correnteza também. Lembro da Cecília e do Fabinho falarem que tiveram que andar muitos metros arrastando o bote dentro do lodo, com as pernas enterradas até o meio da coxa dentro dele, quando tentaram voltar ao Plânkton, porque a maré estava muito baixa. Saímos do clube e pegamos o ônibus até o shopping, onde esperava poder pagar meu cartão de crédito nos bancos 24 horas. A primeira coisa que fiz lá foi tentar pagar o bendito cartão, só que o resultado não foi bom: não havia opção para isso, a não ser que eu tivesse o extrato nas mãos. Fui numa lan-house e acessei meu home-banking, para imprimir uma segunda via dos extratos dos cartões. Entrou uma tela diferente do Banespa e eu, achando que tinham feito alguma modificação no site, digitei os dados, exceto a senha mais importante, para efetivar operações, que a tela estranhamente também pedia. Nessa fração de segundos, lembrei a mensagem do home banking dizendo que na tela de entrada não era pedida essa senha. Cancelei e então apareceu a tela real do home banking. Imprimi as segundas vias, mas mesmo assim não consegui pagar os cartões, pois a impressão estava muito ruim. Perguntei se havia algum Banespa em João Pessoa (há!!!) e resolvemos ir até lá, mesmo com as crianças reclamando, pois queriam passear pelo shopping. Pegamos outro ônibus e fomos para o centro de João Pessoa, mais especificamente para a histórica praça dos cem réis. Achamos o Banespa entre os prédios antigos e, lá, fomos muito bem atendidos pela funcionária Mariana e pela gerente Ruth. Paguei meus cartões, cancelei meus dados de home banking e recadastrei-os, aproveitando para reativar a senha que havia sido bloqueada faz algum tempo. Ficamos quase duas horas no banco, mas valeu a pena. Saindo, almoçamos num gostoso restaurante por quilo do centro e pegamos outro ônibus para voltar ao shopping. Fomos direto para a livraria Siciliano, onde deixei as crianças se deliciarem com os livros, enquanto eu aproveitava para comprar algumas coisas. Depois fomos para uma loja de brinquedos e em seguida ao supermercado. Na saída, ainda comemos uma salada de frutas muito boa, que era vendida num quiosque do shopping. Fomos para o ponto de ônibus e ficamos esperando-o um bom tempo, pois o ônibus para Cabedelo só passa ali a partir das sete horas da noite (e ainda perdemos os dois primeiros ônibus, por estarem cheios e por precisar voltar para comprar um shampoo que eu tinha esquecido!). Chegando no clube, encontramos a Mara, Hélio, Fernando e outras pessoas. Após nosso banho, fiquei lendo e as crianças foram dormir cedo.

 

04/11/2006

Eram umas cinco horas da manhã, já com luz do dia, quando senti um pequeno tranco no barco. Acordei e fui rapidamente ver o que estava acontecendo. Alguém havia soltado o cabo de proa preso ao píer do Macanudo e tanto ele quanto o Cavalo Marinho vieram para cima do Fandango, prensando-o contra o outro lado do píer quando a maré começou a baixar violentamente, pois é lua cheia, de grandes variações. Peguei o cabo, levei-o até o cunho no píer, mas não consegui puxar os barcos. Chamei o Torres no Kanaloa e pedi socorro. Logo, estávamos os dois puxando o Macanudo. Para isso, precisamos soltar o Cavalo Marinho. Com muito esforço, conseguimos levá-lo. Na hora de puxar o Cavalo Marinho, um barco muito maior e mais pesado que o Macanudo, não conseguimos fazer usando nossas forças. Levamos um cabo comprido do Cavalo Marinho ao Macanudo e o puxamos usando a catraca. Na hora de puxar o Fandango, fizemos o mesmo. Todos os barcos ficaram de frente para a correnteza e o problema foi resolvido. Fui afrouxar o cabo que prendia o Fandas ao outro lado do píer, para levá-lo mais para a frente e o resultado foi ruim: todos os barcos começaram a tombar para o outro lado! Novamente, passamos um segundo cabo e puxamos na catraca, acertando-os. Finda a operação, após uma hora e meia de trabalho, fui convidado para tomar café com o Torres e a Elisa e conversamos bastante. Voltei ao Fandas, fiquei lendo até dar a hora de acordar as crianças e servi o café para eles. Findas nossas obrigações, fui tomar um banho de piscina, onde encontrei o Cleidson e o Camilo, do Main 35 “Curumim”, nosso vizinho de píer. Ficamos conversando bastante e mais tarde fui conhecer o lindo barco do Cleidson. O Kaka-Maumau desceu e veio para o píer e ajudei-os a encostar. Almoçamos no barco e aproveitei para tirar uma soneca rápida no barco, prejudicada pelo barulho no píer, pois é pleno sábado e o clube está cheio. Ao levantar, olhei pela vigia e vi o Beduína chegando de seu charter. Corri para pegar os cabos deles, mas vi que meu cabo de âncora iria prejudicar a manobra do Hugo. Fui rapidamente até o Fandango e soltei todo meu cabo de âncora para ele poder entrar safo. A correnteza já estava vazando muito forte novamente, com mais de três nós de velocidade, e o Hugo entrou manobrando ao lado do Fandango para soltar a âncora, prejudicado por um catamarã ancorado no píer da frente. Ao manobrar, ele lembrou do meu cabo (não havia percebido que eu o havia soltado) e evitou dar o motor de boreste. O resultado é que o barco girou um pouquinho para boreste e o acidente aconteceu: o Beduína foi pego pela correnteza forte e arremessado para cima do Fandango! As seis toneladas do Beduína bateram na bochecha do Fandango, que segurou o Beduína. Conseguimos minimizar a pancada segurando-o, mas, com a correnteza pressionando-o fortemente para cima do Fandango, não conseguíamos removê-lo de lá. Passamos um cabo no píer, e várias pessoas tentaram puxá-lo sem sucesso algum. Todos que estavam nos outros barcos e no clube vieram ajudar, com idéias e ações. O grande catamarã que estava no píer e que tinha atrapalhado a manobra do Hugo sem querer, pegou o cabo e tentou rebocar o Beduína, com força. Mesmo puxado para a frente, ele girou a popa (pois estava inclinado) e veio raspando sua lateral na ferragem de proa do Fandas. Deu, então, uma batida no Cavalo Marinho e parou enganchado na corrente de âncora dele! Vimos que era tolice tentar removê-lo de lá, pois, apesar dos barcos estarem todos prensados, todos estavam seguros e qualquer manobra para tirar o Beduína de lá, poria os outros em risco. Fora os raspões que haviam sido dados nos barcos, nada havia quebrado. O único problema foi a popa do Fandango, que entrou por baixo do píer, onde havia a ponta de uma viga. Deixamos o Beduína amarrado ao píer do outro lado, para diminuir a pressão nos outros barcos e, na outra ponta do píer, quem segurava todos os barcos era o costado do Kaka-Maumau. Ainda bem que ele havia descido fazia pouco!!! Foi uma longa espera. Tomamos um refrigerante e batemos um longo papo para distrair o Hugo, que estava se sentindo arrasado. Quando a maré parou, rapidamente e sem esforço o Beduína foi removido, fez a ancoragem e amarração. Quanto ao Fandas, ficou preso embaixo do píer, mas logo o soltamos. Um buraco no espelho de popa de cerca de dez centímetros de diâmetro apareceu. Mais uma “cicatriz de guerra”, somando-se à conseguida em Búzios. Em Jacaré há uma marina de serviços, do Brian, que trabalha muito bem e a grande vantagem da fibra é que o conserto é fácil e rápido. Na ponta do píer, estava ancorado o “Too Much”, um lindíssimo Super-Maramu da Amel, do Jean e da Márcia e fomos convidados para um coquetel de estréia da reforma que eles fizeram no barco. Conhecemos um casal de portugueses, que fizeram os diversos e deliciosos salgadinhos do coquetel, e conversamos bastante com eles. Visitei o barco e ele é confortabillíssimo. Perguntei ao Jonas se ele gostou do barco e ele respondeu: “- Too Much!”. A Gislaine me convidou para jantar no Beduína e as crianças foram convidadas para ir até um shopping. Ficamos até tarde conversando no cockpit do Beduína com o Antão e esposa, que fizeram o charter no Beduína e que também jantaram lá. Falaram que a Baia da Traição é muito bonita e que o passeio foi legal, mas que a maré muito alta não os deixou dormir direito lá. Conversando sobre o acidente, chegamos à conclusão que, o mais seguro num lugar com tanta correnteza, é ficar numa poita até a correnteza parar. Mas, se o Hugo tivesse a possibilidade de soltar a âncora, o que não aconteceu por causa do outro catamarã, dificilmente algo teria acontecido. As crianças voltaram contentes passava um pouco da meia-noite. Nós todos fomos dormir com mais algumas lições aprendidas (no mar, estamos sempre aprendendo), contentes porque o prejuízo foi mínimo e ninguém se machucou apesar do susto.

 

05/11/2006

Após os acontecimentos de ontem, acordei eram cinco horas para verificar as amarrações. Tudo bem! Meia-hora depois, o mesmo. Às seis horas, tudo tranqüilo. Relaxei e acabei acordando, um pouco depois, com uma leve pancada na proa do Fandango. Olhei pela gaiuta e vi o Beduína vindo para cima do Fandango outra vez. A âncora garrou (escapou) por causa da forte correnteza e ele inclinou novamente. O Hugo e a Gislaine já estavam com o cabo esticado até uma das estacas do píer, pois tinham percebido que estava escapando e quase conseguiram evitar que ele corresse. A proa do Beduína ficou a dois centímetros (não mais que isso) da proa do Fandas!!! Com o “Bedú” amarrado ao píer, ficamos mais sossegados e novamente ficamos numa longa espera, aguardando a maré parar. Entrei para descansar mais um pouco e escutei alguém no píer falar: “- Olha, o Beduína está novamente no maior affair com o Fandango!”. Tomamos nosso café e, assim que a maré parou, acertamos o Beduína. Quando o catamarã grande saiu para um passeio, o Hugo subiu a âncora e lançou-a novamente bem mais à frente. Ainda deixou o Beduína amarrado a uma estaca do píer e na proa do Cavalo Marinho. Com toda essa amarração, fomos ao nosso “compromisso” do dia: aproveitar a companhia e hospitalidade do Bernardo, comodoro do clube, e toda sua família. Fomos para a praia do Poço, onde comemos caranguejos, agulhas fritos e ensopados de caranguejo, acompanhados de cervejas bem geladas. O dia estava muito bonito e a praia muito gostosa. Com o Neno, irmão da Beta, fui dar minha primeira velejada descente de Hobbie Cat 16. Como anda o barco! Fomos até um lugar chamado “Areia Vermelha”, um grande banco de areia na frente da praia de Camboinha (ao lado da do Poço). Havia muitos barcos no local e, lá, encontrei o João Carlos. O lugar é bonito e “diferente”. Na maré alta, o banco some. Na baixa, vira uma grande praia. Voltamos à praia do Poço e ficamos conversando no restaurante de praia, que estava abarrotado de gente. Quando a maré subiu mais um pouco, fomos todos à casa do Bernardo, onde nos esperava uma surpresa: um excelente almoço preparado pelo irmão do Bernardo. Peixe assado, um cozido de frutos do mar muito bom, pirão e arroz! Enquanto as crianças brincavam, ficamos conversando, com umas trinta pessoas no quintal da casa. Quando o sol foi caindo, um cafezinho e dois bolos saindo do forno fizeram a alegria de todos. Fiquei com pena de não ter levado a máquina fotográfica. A alegria e hospitalidade desse povo são muito grandes! Jovens, adultos e idosos, todos com uma alegria contagiante e simpatia constante. Tomara que a Paraíba e seu povo continuem assim por muito tempo. Agradecemos todo o carinho com que eles nos receberam e voltamos ao clube para ver a próxima descida de maré. Tudo correu muito bem. O Torres e a Elisa deixaram uma linda mensagem no nosso livro de visitas, nos lisonjeando muito. Após ler a mensagem deles e revendo as mensagens antigas, reli a mensagem do Beduína, escrita pela Gislaine, que dizia em seu final: “Bons Ventos!! (Favoráveis, é claro!) Que as correntezas façam a gente se esbarrar sempre!”. Não agüentei e fui direto com o livro lá, para eles verem. Após muitas risadas, relembramos a velha frase: “Cuidado sempre com o que você deseja!”. As crianças ficaram no Beduína e viram um filme, enquanto eu fui fazer algumas coisas no Fandango. Depois chegou o Fernando, do Kaká-Maumau e ficamos conversando, junto com o Hugo. Fomos, finalmente, dormir tranqüilos, mas com os ouvidos ligados para a próxima virada de maré.

 

06/11/2006

Acordei escutando a voz do Brian no píer. Levantei rapidamente e aproveitei para pedir que fizesse um orçamento da arrumação do Fandango. Pouco depois ele voltou com um orçamento bem razoável e mandei fazer o serviço, que o Hugo já tinha aprovado antecipadamente, por saber que o Brian é muito sério e honesto. Tirei tudo do paiol de popa e após meia-hora, o serviço já estava sendo iniciado pelo Aldo. Vi que o Rodrigo havia chegado na madrugada. Logo, o Nick e a Márcia acordaram e aproveitamos para matar um pouco das saudades dos amigos, que estava muito grande! A Carol tomou café e saiu com a Talita e a Gi para passear, enquanto o Jonas ficou brincando com o Nick. Pouco depois das onze horas, o Aldo encerrou o serviço e o Fandango ficou melhor do que estava antes, pois mandei arrumar também a cicatriz de Búzios! Limpei o paiol da popa, por onde foi feito o remendo e guardei tudo novamente. Saí para fazer compras e retornei no final da tarde, com salsichas e pães para um lanche. Assim que cheguei, cruzei com a Márcia, que estava trazendo coisas para um lanche também. Juntamos tudo e ficamos comendo e conversando sobre as próximas navegadas. Após trabalhar um pouco no computador, fomos para o Cavalo Marinho, tomar um vinho, onde também estavam as tripulações do Kanaloa, Beduína e o Fernando do Kaká-Maumau, onde muitas histórias pessoais foram contadas. Os momentos de alegria com esses amigos são muitos e intensos, talvez, por sabermos que eles logo vão acabar. O Jonas acabou dormindo no Cavalo Marinho, a Carol foi para o Beduína e eu fiquei conversando até uma e meia da manhã com o pessoal.

 

07/11/2006

Acordamos cedo para aproveitarmos bem nosso último dia antes dos amigos irem para o Caribe. Após o café da manhã e obrigações, logo as crianças foram brincar com carrinhos na varanda do restaurante. De repente, chamam pelo meu nome com um sotaque carregado! Era o Paul e a Diane, que chegaram com o Flame! Que bom revê-los! Conversamos um pouco e soubemos que irão para Noronha. Dei-lhes as dicas do lugar e falei para tomarem cuidado com a “taxa” que querem cobrar dos barcos para ancoragem em Noronha, que é proibida pela Marinha e que mesmo assim alguns funcionários do lugar tentam “embolsar”, mudando o preço conforme a origem do barco e a cara do dono. A única taxa permitida é a TPA (taxa de preservação ambiental). Almoçamos no Maria Bonita, com o Rodrigo, o Nick, o Rafa e a Talita. Fui na Capitania dos Portos com o Rodrigo e deixei uma lembrança para o Capitão dos Portos da Paraíba. Aproveitei para avisar de nossa saída rumo a Atapus e Recife. Rodrigo, por sua vez, pegou o documento de seu barco com permissão para navegação oceânica, sem restrições. Quando voltamos, tudo já estava sendo arrumado para um jantar festivo: hoje será a abertura do primeiro rally Paraíba-Caribe. Todos tomamos banho, nos arrumamos e em pouco tempo estavam todos “chiques”! As mulheres todas arrumadas e os homens colocaram até tênis e docksides, abandonando a tradicional sandália havaiana. As pessoas foram chegando e vários velejadores e diretores do clube estavam lá, além da imprensa. A Talita chorou, o que deu um nó na garganta de todos. O jantar foi excelente! Comida típica nordestina, com carne de sol, frango, porco, arroz, farofa, feijão verde, inhame, macaxeira, etc. Bernardo e Beta, Fernando, Hélio e Mara assinaram o livro de visitas do Fandango, deixando-nos belas mensagens. No final da festa, com a alegria contagiante da largada para o Caribe contrastando com a tristeza da separação dos amigos, Jonas puxou um abaixo assinado para que o Fandango fosse junto para o Caribe, tentando me fazer mudar de idéia. TODOS assinaram!!! Se, por um lado, eu estava triste por não poder realizar esse desejo deles agora por vários motivos, por outro estava feliz de que as crianças tivessem gostado tanto da viagem, de modo a querer estendê-la. Recebi convites para fazer o trecho Fortaleza-Caribe a bordo dos barcos e fiquei de “estudar” (isso implica em entrar dinheiro de locação da minha casa no final do ano para comprar as passagens de avião). Fomos dormir era quase meia-noite, tendo que acordar amanhã às quatro. Pouco depois que deitamos, a Talita veio com um presentinho e bilhete para a Carol, que já havia ido dormir fazia tempo. Acho que elas irão sentir muita falta uma da outra.

 

08/11/2006

Eram quatro horas da manhã quando levantei. Em todos os barcos eu via as luzes de acendendo e o pessoal acordando também. A Carol abriu o presentinho da Talita. Havia um colar e um bilhete que dizia: “Carol, não sei como explicar o que estou sentindo. Só sei que você foi uma pessoa muito especial para mim. Nunca me esqueça. Te adoro. Talita”. Acho que em poucas palavras, ela explicou o que todos estávamos sentindo. Tentando distrair a tristeza, evitamos dar “adeus” e abraços de despedida, como se estivéssemos saindo todos para o mesmo lado. Saímos eram aproximadamente cinco horas da manhã. Demoramos muito para chegar na barra, pois a maré estava subindo e a correnteza ainda era forte. Aproveitei para bater fotos do Beduína e do Cavalo Marinho, que estavam próximos a nós. Chegando na barra, acenamos e então fomos seguindo na direção sul, enquanto eles iam para o norte. O Jonas e a Carol haviam entrado para dormir e fiquei sozinho no cockpit, vendo as velas dos barcos dos amigos se afastando e vendo o Kanaloa sair na barra. Aí, posso dizer que bateu “doída” a emoção e fiquei repensando essa chance, como disse o Hugo, “única de ir ao Caribe com um grupo tão unido” e com pessoas tão especiais. Quando estava pensando nisso, vi um rastro acinzentado vir rápido dentro da água em direção à proa do Fandango e um grande golfinho solitário apareceu! Gritei para as crianças e ele ficou conosco, brincando na nossa proa por poucos minutos. Ele deve ter se separado do bando e veio brincar conosco. Ficou pouco tempo, mas deixou sua marca. O Fandango continuou avançando rumo ao sul, solitário como o nosso amigo golfinho. Coloquei vara de pesca para tentar pegar um peixinho (a esperança é a última que morre!). O dia estava lindo e a água maravilhosa e transparente. Cruzávamos vários barcos de pesca. Um dos barcos de pesca nos chamou e ofereceu o que me pareceu, de longe, serem lagostas. Disse que não queria e fomos tomar um achocolatado com bolachas e manteiga quando eram onze horas. Enquanto decidíamos como passar por um barco de pesca, o Jonas escutou a fricção cantando. Corri, comecei a puxar e pegamos uma bonita sororoca, de mais de um quilo. Quando a puxava, vi um pequeno peixe nadando atrás do Fandango, que parecia ser um caçãozinho, que logo desapareceu. Finalmente a pescaria de corrico deu resultado e teremos peixe para o jantar! Assim que ela morreu, eu a limpei, ou “tratei” como dizem por aqui e deixei preparada para assar no forno. Continuamos rumo a Atapus. A Carol dormiu bastante e eu apenas uma hora. O vento era de leste e foi girando para nordeste, facilitando o avanço. Algum tempo depois, a fricção cantou outra vez e pegamos outra sororoca um pouco maior que a primeira! Tratei-a também e a cortei em quatro filés. Um dos filés, cortei como sashimi e logo nós o devoramos. Com os outros três filés eu fiz algo que queria fazer já fazia tempo: salguei-os e coloquei para secar ao sol. Vamos ver como é que fica. Quatro horas da tarde nos aproximávamos da entrada da barra, que fica entre a ilha de Itamaracá e ilha de Itapessoca e que leva a Atapus. Fomos seguindo os way-points que o Torres nos havia dado e chegamos facilmente, com a maré nos ajudando a entrar na barra. O lugar é muito bonito e nos lembrou Camamu. Eram cinco horas quando soltamos nossa âncora em frente ao povoado. A primeira coisa que fizemos foi assar o peixe e fazer um risoto para acompanhá-lo. Estava divino! A segunda foi dormir, pois eu estava “acabado”. Dormi das seis da tarde até as oito e, então, saí para o cockpit para ficar de olho na virada de maré. Com o vento de nordeste e a maré vazando, ficamos sempre num perigoso equilíbrio entre correnteza e vento, um contra o outro. Dormi um tempo no cockpit e, quando acordei, vi que o barco havia girado para cima do cabo de âncora e este se havia enroscado na quilha, deixando o barco de través para a correnteza, o que é perigoso, pois aumenta muito o esforço sobre a âncora por causa da quilha. Dei um jeito de soltar, usando o croque e uma garatéia e, com o barco aproado para o vento e para a correnteza, fui dormir tranqüilamente, lembrando dos amigos que, provavelmente, já devem ter chegado a Natal.

 

09/11/2006

Acordei de verdade eram mais de 8:30 hs, apesar de ter dados algumas levantadas de manhã para ver como estava nossa ancoragem. Dormi muito e as crianças ainda dormiam também. Chamei-os e eles levantaram entusiasmados para conhecer o lugar em que estamos, mas, antes de tudo, o Jonas lavou a louça, fiz nosso café da manhã e deixamos nossos diários atualizados. Inflei o bote, que estava guardado, coloquei o motor e fomos para a prainha ao lado do barco e ao lado de Atapus. Era quase meio-dia e a maré estava bem baixa. Descemos no lodo e, então, lembrei do meu chinelo, que não trouxemos. Voltei ao barco, com a Carol me ajudando a remar, e peguei o chinelo e as ferramentas do motor, que afogou quando tentamos sair da praia. Quando tentei ligá-lo novamente, ele pegou (acho que ficou com medo das ferramentas!). Descemos em Atapus e logo tomamos refrigerantes, pois o dia estava muito bonito e o sol muito forte. Andamos um pouco pela pequena vila e tomamos mais refrigerantes num mercadinho. As pessoas daqui são simpáticas e tentaram nos ajudar a arrumar alguém para nos levar ao forte Orange e ao projeto Peixe-Boi. Não conseguimos ninguém, nem para ir por terra e nem para ir por mar. As duas coisas ficam longe daqui, na ponta oposta da bela ilha de Itamaracá. Comprei, num mercadinho, tomates, cebolas e leite de coco, para fazer o peixe que salgamos com essas coisas. Queríamos batatas também, mas não achamos. O comércio aqui é muito pequeno. Voltamos ao bote e resolvemos atravessar o canal e ir conhecer uma linda prainha na ponta da ilha de Itamaracá, por isso chamada de praia do Pontal. Enquanto atravessávamos, víamos muitos pescadores de rede e de linhada tentando pegar seu sustento. A pesca aqui é farta e, pelo que ví, totalmente artesanal. Conversando com um pescador, fiquei sabendo que pegam muitos robalos, pescadas, baiacus, etc. Chegando na prainha, fui pular do bote, a uns cinco metros da beirada. Afundei inteiro, pois não dava pé e comecei a nadar puxando o bote. Ufa, só dá pé quando faltam uns dois metros para a praia! Ainda bem que estava só de calção e consegui salvar os óculos e o boné. A prainha é fantástica e tranquila. Só havia na praia mais uma família de pescadores, com umas seis pessoas, que logo foram embora. O Jonas e a Carol ficaram tomando banho de mar, numa água deliciosamente quente, e brincando de castelos de areia. Eu fui dar uma volta para fotografar o lugar. Perto da praia, há um condomínio de boas casas, num bairro chamado pontal. Do outro lado do canal eu via a ilha de Itapessoca e à minha frente eu via o mar aberto, com bancos de areia do lado esquerdo e direito da barra. Andei uns 15 minutos e não vi ninguém na praia. Retornando, fiquei com as crianças curtindo o final de tarde e, quando eram quatro horas, retornamos ao Fandango. Logo, comecei a preparar o peixe. O resultado foi acima do esperado: todos adoramos e tive que fazer mais arroz para acabar com o peixe e o caldinho delicioso! Vou salgar peixe sempre! Ele fica muito parecido com bacalhau, mesmo salgado apenas de um dia para o outro! Lemos um pouco, as crianças voltaram a estudar, pois acabaram as “férias escolares” (que eu desloquei para eles terem a matéria mais fresca na cabeça quando chegarem na ilha) e fomos dormir cedo. É muito bom estar num lugar tranquilo e cheio de natureza como este. Dá até pena ter que ir amanhã para Recife, mas será por um ótimo motivo.